quarta-feira, 2 de junho de 2010

prece.




'Sobre todos aqueles que ainda continuam tentando,
Deus,
derrama teu Sol mais luminoso.


(...) E porque tudo é ritual,
porque fé, quando não se tem, se inventa
(...),
e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais,
resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas.
Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos,
mas para exercitar o ritual e a fé -
e para pedir, mesmo em vão,
porque pedir não só é bom,
mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.

(...) queria pedir a isto que chamamos de Deus um olho bom sobre o planeta Terra
(...) Eu queria hoje o olho bom de Deus sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas,
o olho cúmplice de Deus sobre as joias douradas, as cores vibrantes.
O olho piedoso de Deus sobre esses casais que,
aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaranás pelos restaurantes,
e mal se olham quando falam coisas como
"você acha que eu deveria ter dado o telefone da Catarina à Eliete?" -
e o outro grunhe em resposta.


Deus,
põe teu olho amoroso
sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo,
e de alguma forma insana esperam a volta dele
(...).


(...) olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer não a que são,
e viver outra vida que não a que vivem.


(...) deita teu perdão sobre os grupos de terapias e suas elaborações da vida,
sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos (...),
sobre os homossexuais tontos de amor não dado,
sobre as prostitutas seminuas,
sobre os travestis (...),
sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria (...).
Sobre o descaramento, a sede e a humildade,
sobre todos que de alguma forma não deram certo
(porque, nesse esquema, é sujo dar-certo),
sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma -
sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio
de uma por uma das ilusões.


Sobre as antas poderosas,
ávidas de matar o sonho alheio.
Não.
Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso,
Deus,
e afia tua espada.
Que no zero grau de Libra,
a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça.
Mas para nós,
que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir,
envia teu Sol mais luminoso,
esse Zero Grau de Libra.
Sorri,
abençoa nossa amorosa miséria atarantada.'


Caio F.
[Zero Grau de Libra, In: Pequenas Epifanias]





Faz um favor, fedo? Leva essa carta até Deus. É urgente!

Ps: hoje começa mais um RTA (eca). Acredita que já passou um ano? Lembra quando você foi ano passado e eu não fui? Danado. Antes eu tivesse ido com você e tivesse mandado o meu TCC pra puta que pariu. Podia ter deixado meu TCC para agora que fiquei sem você. Mas como é que a gente ia saber, né? Como?

Um abraço bem apertado, viu...
A saudade tá judiando.

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