sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

mais um dia.



'Lavamos a alma juntos,

mais riso do que choro,

porque respeito muito minhas lágrimas,

mas ainda mais minha risada.'


Cris Lisbôa





Eu gostaria, fedo, de ter, pelo menos, mais um dia inteiro junto de você. Embora eu saiba que depois desse dia, eu ainda teria o desejo de ter mais um dia, e mais um dia, e só mais um, e mais um... porque as coisas são assim mesmo. E por serem assim, e Deus muito sabido, as coisas não acontecem como gostaríamos.

Mas eu gosto muito de imaginar, numa hora dessas qualquer do dia, que estou acordando de manhã, em Londrina, e você do meu lado, quase acordado também. Aí eu ouço você dizer:

- Cansei de dormir... vamo acorda?

Aí a gente levanta, a gente ri, a gente vai pra sala, a gente liga a tv e fica um dia todo de preguiça. Abro a porta da sacada e entra o ar gostoso da manhã de Londrina, com sol e algumas muitas nuvens no céu. Você, sem camiseta como sempre.

Faço um pãozinho pra gente, mas caso não tenha nada no apê, a gente corre lá pra padaria quase do lado de casa. Fico na dúvida se peço suco de laranja ou um café... você iria pedir um suco de laranja. Aí a gente resolve passar no mercado, naquele mesmo perto da padoca, pra comprar os ingredientes do almoço. Almoço feito por você.

Depois de tudo isso, a gente descansa mais um pouco. Porque a gente tem esse direito e porque quando a gente ama, só quer isso mesmo. Um colchão, um carinho e um amor.

Quando a preguiça sai e a gente resolve fazer algo, a gente resolve dar uma volta na cidade. Ou vamos ao shopping, ou vamos tomar sorvete, ou vamos ao banco, ou vamos a farmácia... tantos lugares possíveis. Mas isso só se não estiver chovendo, porque se estiver... adios, cidade! Resta apenas nós e o colchão na sala.

Em dias assim, ou mais preguiçosos, você joga poker. Eu leio, ou uso a net, ou assisto tv. E paralelamente, você comenta todo feliz - como uma criança - cada jogada supimpa tua. E eu olho pra você toda interessada - embora eu não veja graça nesse jogo - e digo:

- Óiaaa... aí sim, heim!

De repente, já escureceu. E aí vai batendo uma melancolia pequena, porque amanhã você vai trabalhar e a gente não vai passar o dia todo juntos. Mas aí a gente come o que sobrou do almoço (porque sempre sobra), ou pedimos uma pizza. Assistimos tv, o telefone toca e você atende. É a dona Marina.

Quando o dia acaba e é hora de nanar, a gente vai pro quarto. Como hoje estou esperta, deito primeiro no colchão, de qualquer jeito mesmo e digo:

- Já deitei, você apaga luz!

Você me chama de danada. Apaga a luz e diz:
- Muié, dá um sorriso ae porque não tô te vendo.

Eu pego na tua mão. Você beija minha mão. E a gente fica assim, feliz, em paz. Com o coração calmo, espírito tranquilo, tendo certeza que Deus existe e tendo certeza de que é uma história feliz. Tendo certeza que um futuro cheio de esperança e sorrisos nos aguarda. Tendo certeza que é ele, é ele sim, o homem que eu escolhi. Depois de um silêncio, eu digo:

- Fedo...
- Uhm...?

- Boa noite, dorme bem, viu...

- Dorme bem você também, viu...

E eu durmo, completamente inteira, completamente em paz.




Que direito é esse que um ser humano acha que tem de tirar a paz de um outro alguém? Devia haver uma espécie de indenização (não em dinheiro) pra esse tipo de coisa. Alguém que pode tirar alguém de nós deveria ser capaz também de trazer de volta... mesmo que fosse por apenas mais um dia.

Um comentário:

Maysa disse...

Olá. Descobri seu blog por acaso quando pesquisei sobre mariposas. Perdi o link, acabei esquecendo e hoje reencontrei sua página. Devo dizer que fiquei simplesmente APAIXONADA por seus textos. Você escreve de uma maneira tão linda, e tão triste e tão doce e tão repleta de amor... Sofri algumas perdas ultimamente mas nenhuma como a sua, ninguém tão próximo. Mesmo assim isso me fez enxergar seus textos com outros olhos e também refletir sobre uma série de coisas. Sinto muito pela sua perda, mas fico feliz que você tenha encontrado uma forma tão maravilhosa de catalizar sua dor e registrar todo seu amor. Lindo, simplesmente lindo. Muita luz!